Enquanto o Projeto de Lei 2338/2023 avança na Câmara, especialistas alertam que a capacitação profissional é o principal para a inovação responsável no setor
A rápida ascensão da Inteligência Artificial (IA) colocou o Brasil em uma corrida regulatória. Enquanto o Projeto de Lei 2338/2023, que cria o Marco Legal da IA, avança na Câmara dos Deputados, e o Conselho Federal de Medicina (CFM) estuda uma resolução específica para o setor, uma vanguarda de médicos que já incorporou a tecnologia em sua rotina alerta: o foco do debate está no lugar errado. Eles argumentam que, antes de uma lei, o que o país precisa com urgência é de um "letramento em IA" para os profissionais da saúde.
Essa perspectiva, que muda o eixo da discussão da burocracia para a educação, foi o ponto central de um debate aprofundado no Manole Cast, podcast para médicos da Ed-Tech de saúde Manole, com os cardiologistas e pesquisadores Dr. José Alencar, professor da casa, e Dr. Diandro Mota.
Para os especialistas, esperar por uma regulamentação completa para só então começar a interagir com as novas ferramentas é uma estratégia perigosa. "A tecnologia não vai esperar. Ela já está disponível e sendo usada. A questão é se estamos usando bem ou mal", afirma Dr. Diandro Mota. "A maior barreira de segurança para o paciente não é um artigo de lei, mas sim um médico que sabe o que está fazendo, que entende os limites da ferramenta e que não a utiliza de forma cega."
A discussão quebra o mito de que a IA substituirá o médico, reposicionando o debate para o risco real: o profissional que se recusa a aprender a tecnologia será, inevitavelmente, superado por aquele que a domina. "O médico precisa assumir seu papel de 'piloto da IA'", complementa Dr. José Alencar. "É o nosso julgamento clínico que serve de firewall contra os erros e as 'alucinações' que os algoritmos podem produzir. Sem esse piloto treinado, a melhor tecnologia pode se tornar um risco."
Longe de ser uma discussão teórica, o episódio detalha como a IA já está otimizando a rotina médica. Ferramentas de IA generativa, como o ChatGPT, são usadas para agilizar a criação de relatórios e resumos de artigos, enquanto plataformas como a Julius AI analisam planilhas complexas de dados de pesquisa em minutos, um trabalho que antes levaria horas.
Essa automação de tarefas repetitivas, defendem, libera o tempo do médico para o que a tecnologia não pode fazer: o cuidado direto, a conversa com o paciente e a tomada de decisão complexa. "A produtividade que a IA me traz hoje permite que eu dedique mais energia ao raciocínio clínico e ao paciente. Ela não pensa por mim, ela me dá mais tempo para pensar melhor", explica Dr. Alencar.
A discussão sobre IA é parte de uma iniciativa maior da Manole para fomentar o debate qualificado sobre os temas mais urgentes da medicina. O Manole Cast já conta com 9 episódios disponíveis em plataformas de áudio e vídeo, abordando desde as fronteiras tecnológicas até os desafios humanos da profissão, como a crise de burnout, a saúde de populações vulneráveis e a gestão de carreira.