Dourados
Parlamentar afirma ser vítima de violência política de gênero e aguarda investigação policial
Flávio Verão
Deputada estadual Gleice Jane (PT), durante sessão na Assembleia Legislativa. (Foto: Luciana Nassar)
A deputada estadual Gleice Jane (PT) registrou, na noite deste sábado (6), um boletim de ocorrência na Depac (Delegacia de Pronto Atendimento Comunitário) de Dourados após receber ameaças de morte pelo WhatsApp em seu número pessoal. Em vídeo divulgado nas redes sociais, a parlamentar classificou o caso como violência política de gênero, afirmando que não pretende se intimidar nem se silenciar.
Segundo o relato da deputada, um homem enviou diversas mensagens com ofensas graves, utilizando palavras de baixo calão como “vadia” e “cadela”, além de encerrar o texto afirmando: “Você vai morrer”. Gleice Jane também recebeu links com referências a perfis ligados ao PL, acompanhados de ofensas ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, e ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), com questionamentos sobre sua atuação política e condição de mulher.
Para a parlamentar, o conteúdo das mensagens reflete uma tentativa de deslegitimar a participação feminina na política.
“Entre as mensagens, havia questionamentos sobre minha posição política, pela minha condição de ser mulher e ser política, o que caracteriza violência política de gênero. É um movimento que tenta negar nossa existência e impedir que participemos da política, alimentando também a violência contra mulheres e o feminicídio em nosso país”, afirmou.
Ao Campo Grande News, Gleice Jane informou que a primeira ofensiva teria ocorrido em 22 de novembro, quando foi xingada e ameaçada de morte pela mesma pessoa. Na ocasião, ela não chegou a visualizar a mensagem devido à agenda movimentada. Nesta semana, os ataques foram retomados, e a parlamentar acionou sua assessoria jurídica, que recomendou o registro policial.
Apesar de já ter recebido críticas agressivas em outras ocasiões, Gleice Jane afirma que foi a primeira vez em que se sentiu ameaçada de forma direta, o que a deixou em alerta. A deputada aguarda agora a apuração da Polícia Civil para avaliar o nível de risco e decidir se será necessário solicitar medidas de segurança ao Estado.
A parlamentar mencionou ainda a mobilização realizada neste domingo (7) pelo fim do feminicídio, que reuniu cerca de 150 pessoas em Campo Grande, na Avenida Afonso Pena com a Rua 14 de Julho. Mulheres, crianças e apoiadores levaram cartazes pedindo o fim da violência contra mulheres e defendendo a criação de uma legislação específica contra a misoginia.
Em discurso, Gleice Jane incentivou vítimas de ameaças ou agressões a procurarem a polícia.
“Se você está sob ameaça, vá à delegacia e registre boletim de ocorrência. Nenhuma de nós pode ser silenciada ou violentada por sermos mulheres. Temos o direito de estar onde quisermos.”
Para ela, a ameaça representa não apenas um ataque individual, mas uma forma de intimidar todas as mulheres que atuam na política, criando barreiras à participação feminina. “Muita gente tem medo de participar da política, principalmente as mulheres”, concluiu.
Após tornar o caso público, Gleice Jane recebeu apoio de colegas de partido, como a vereadora Luiza Ribeiro (PT), o vereador douradense Franklin Schmalz (PT), além dos diretórios do Partido dos Trabalhadores de Dourados, Rio Brilhante e Rio Verde de Mato Grosso do Sul. Dezenas de apoiadores também manifestaram solidariedade à deputada pelas redes sociais.